Nasci na cidade de Boquira/BA,
Boquira é um município brasileiro do estado da Bahia, localizado na mesorregião do Centro-Sul
Baiano. Um lugar nascido pela extração de chumbo, zinco, prata e ouro na mina
que fica próxima e de pedras preciosas, semi-preciosas. Chega-se a Boquira
através de transportes rodoviários, o principal acesso é a BA-156. O município conta
com um campo de pouso. São joão Os festejos
juninos possuem uma tradição cultural que não acaba nunca, existem Blocos
formados pelos habitantes do município e muita diversão. todos os anos existem
uma grande festa com atrações de grande porte.
Minha família inteira migrou para São Paulo quando eu tinha
05 anos. Fui criado junto com meu irmão mais velho e primos e primas, todos
mais ou menos da mesma idade. Lembro-me muito bem dessa época, das brincadeiras
de infância, dos meus primeiros heróis: o Zorro, com o caricato Sargento
Garcia; o Nacional Kid e o Super Homem. Lembro até que eu tinha uma capa cinza
e que montava num cabo de vassoura e brincávamos no meio do matagal em frente
de casa. Lembro que meu tio Ivan tinha uma vitrola e que tocava Beatles nas
tardes ensolaradas, em cima da laje.
Fui criado como sendo o filhinho da Mamãe, ela tinha medo
que eu me desviasse como meu irmão, por isso fazia questão de me levar à tira
colo, para todos os lugares que ia.
Na escola eu era sempre o primeiro da classe, que me dava
“status de queridinho”, pelas professoras de Matemática, Português e Geografia;
isso me acompanhou até o ginasial na adolescência. Eu não gostava de me sentir
diferente dos demais, mas sabia que era diferente. Eu não brincava com os
outros moleques, no intervalo das aulas; não brincava de pipa ou de bolinha de
gude com os outros moleques da rua onde morávamos. Enfim, todas as brincadeiras
que envolviam contato com outros moleques, eu ficava de fora; pois minha mãe
achava que assim eu não correria risco de me tornar um marginalzinho.
Também fui criado com uma “mentalidade paulista” que ser
nordestino não era bom! Ou que tudo o que vinha do nordeste era ruim... Então
na minha cabeça pairavam inúmeros pensamentos negativos, de que eu não era
igual aos outros meninos e que era o filho diferente de uma família nordestina.
Como fui criado numa sociedade sulista, fui moldado pra pensar como a maioria e
sempre ouvia em todo canto, piadinhas discriminatórias contra nordestinos.
Cresci nesses moldes e minha juventude não foi diferente. Houve um fato que
contribuiu bastante para que dentro de mim esse sentimento, se tornasse forte;
foi quando eu fiz 15 anos, minha mãe decidiu fazer uma viagem a Macaúbas, sua
cidade natal, com o intuito de me apresentar aos nossos parentes de lá e
mostrar o lugar onde nasci. Quando lá cheguei, fui tomado de assalto pelas
imagens daquele povo pobre, sem muitos recursos, falando um português cheio de
erros e vícios de linguagem, um povo carente de civilização. Logo pensei:
“definitivamente eu não pertenço a esse lugar e a esse povo”... Isso só
fortaleceu a ideia errônea, que eu fazia a respeito da minha origem.
Não preciso dizer que eu sempre mentia, quando me
perguntavam onde eu tinha nascido; aliás, devo fazer umas aspas: “eu tinha
vergonha de mostrar meu documento, pois mostrava o nome da cidade onde eu tinha
nascido e revelava que não tinha pai”. Uma dor que coroia minha alma, toda vez
que eu me deparava com isso!
E demorou exatamente 20 anos até que essa história fosse
corrigida em minha vida. Logo depois do exército, aceitei sugestão de minha mãe
e decidi partir sozinho para “tentar uma vida nova”, como ela mesma dizia.
Parti com a cara e a coragem, em plena força dos meus 20
anos e fui morar na cidade de Macaúbas. Lancei-me com tudo, logo fui aceito
pelos macaubenses e boquirenses, cidades irmãs, onde eu tinha alguns
familiares. Comecei a trabalhar auxiliando um engenheiro agrônomo na marcação
das terras do açude, depois trabalhei na prefeitura, no cartório eleitoral;
onde tive a grata surpresa de encontrar o título eleitoral do meu avô João com
a foto dele. Algo inédito para nossa família! Estudei um ano no Colégio
Estadual. Participei pela primeira vez de um grupo de jovens, nomeado
“Mariápolis” vinculado à Igreja Católica. Fizemos inúmeros passeios às redondezas.
Promovendo bingos e quermesses, para arrecadar dinheiro da nossa passagem para
o “Encontro Nacional de Mariápolis”, que seria em Pesqueira/PE. Conheci os
vilarejos, com suas casinhas de barro e sua gente humilde, cheia de nobreza e
alegrias. A sensação foi que pela primeira vez eu fazia parte de uma grande
família acolhedora e benevolente! Conheci a culinária local, de pratos
saborosos e exóticos. Conheci minhas origens como verdadeiramente ela era.
Ganhei identidade! Pela primeira vez me senti um ser humano igual à todos os
outros, me senti gente e descobri meus verdadeiros sentimentos, até então
amordaçados dentro de mim!
A grande virada aconteceu no Encontro da Mariápolis... Tudo
já estava escrito nas estrelas e eu não podia fugir do meu destino. Conheci um
soteropolitano de apelido “Lula” que seria o anjo enviado para abrir as portas
de Salvador para mim. A mudança ocorreu de forma tranquila e calculada. Lula
abriu as portas de sua casa, onde fiquei instalado alguns meses, de bônus
ganhei uma “mãezona” Dona Ziza, ganhei irmãos, irmãs, sobrinhos, cães e gatos!
Logo consegui meu primeiro emprego em SSA, a Mesbla, como
auxiliar de tesouraria. Sentia-me vivendo em um outro país. Com cultura,
língua, costumes, comidas, musicas, tudo muito diferente. A atração foi
instantânea como dois imãs..
Finalmente encontrei-me com meu povo, minha gente, meu
lugar. Lá eu vivi 06 anos ininterruptos. Só voltei pra Sampa com 27 anos, mas
isso é uma outra história!!
Muito bom seu texto, uma bela história tens muito a ensinar, com tantas experiências vividas! Aguardo ansiosamente outros textos.
ResponderExcluirGradecido Meloso!!! beijooooo
ExcluirMutcho bem. E mutcho bom! Manda mais! Hehehe! Excelente semana pra ti! Hugz!
ResponderExcluirValeu Fred... vamos que vamos... uma semana abençoada! Big Hugs!!!
ExcluirBoa semana pra ti tb, caro amigo! E gracias pelo comment lá no TPM! Hugzão!
ExcluirMuito legal sua trajetória. Vai ter mais história? Parece que ficou em aberto para uma continuação... rs
ResponderExcluirObrigada pela visita.
Beijocas
Sim amiga.... estou começando...ainda meio sem jeito...tem horas que fico com a mente cheia de coisas pra colocar no papel, mas nem sempre tenho tempo...seus comentários me motivaram ainda mais...muito obrigado...abraços
ExcluirGera
ResponderExcluirSua história é muito bacana! Manter viva a nossa memória e da família é algo maravilhoso. Pelo que li, observei que você tem um manejo interessante de linguagem e intimidade com a escrita. Caso tenha interesse em registrar isso em um livro, entre em contato comigo. Posso mediar a publicação com a editora que lançou os meus!
Um abraço
Puxa Michele...fiquei surpreso com seu comentário e muito mais com sua proposta...sinceramente não sei, estou começando e ainda não me sinto seguro. Mas vamos amadurecer isso...conto com sua ajuda! Grande beijo
ExcluirAdorei, e fiquei com inveja da sua Boquira. Queria uma pra mim também.
ResponderExcluirFantástico você abandonar o preconceito (a referida "mentalidade paulista") e ir lá, resgatar sua história e sua identidade!
Parabéns!
Abraço
Obrigado amigo Alex...realmente foi a primeira grande virada em minha vida...estou tentando resgatar a história completa...sua opinião é importante pra mim! Bj
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