quinta-feira, 17 de outubro de 2013

“Sem pai, sem eira e nem beira”



A palavra “PAI” não tem nenhuma referência pra mim. Não sei o que significa ou o que ela representa. Talvez seja exagero da minha parte começar falando dessa forma. Meu sentimento é verdadeiro e a primeira coisa que penso quando vou escrever é que, tem que ser genuíno e verdadeiro! Não tenho a pretensão de ser emotivo ou coisa do tipo. Minha intenção é tentar desvendar o emaranhado que envolveu minha vida durante muitos e muitos anos. Esse é o motivo maior que me leva a descrever meus sentimentos e entendimento...
Tentei em vão por longos anos, justificar o que a falta da figura paterna, havia provocado em mim. Era uma busca absurda, imaginando que, buscar a resposta, me faria ser diferente do que eu era. O sentimento era confuso. Não tinha referências, como já disse. Mas era uma busca e eu fiz dela meu objetivo, em vão! Porque não cheguei a nenhuma resposta conclusiva! Mas fazendo um contraponto com tudo isso, preciso contar minha história nua e crua. Daí minha primeira recordação da figura paterna, me remete ao meu tio Beto!
Ele foi o quinto de dez irmãos, depois dele, veio minha mãe a primeira mulher. Lembro-me que foi ele quem me deu o primeiro presente de natal, um caminhãozinho! E que felicidade seu gesto me trouxe. Me lembro da figura dele, porque ele era presente o tempo todo! Na medida em que eu ia crescendo e entendendo a constituição de uma família, ficava visível pra mim o que ele representava.
Antes preciso falar do meu sentimento para com minha mãe; porque os sentimentos se misturavam, já que pra mim ela foi mãe e pai durante sua existência. Quando a família de nordestinos migrou para São Paulo, minha mãe e meus tios precisaram trabalhar para sustentar a todos; então quem cuidava de nós era minha “avó Chica”. Eu era mais apegado a ela e demorei algum tempo para chamar minha mãe de mãe. Depois disso, quando minha mãe percebeu que havia algo errado nessa criação, me trouxe para mais perto dela, levando-me de tira-colo por onde quer que fosse. Nessa época eu já sabia que faltava um pai, coisa que eu nunca havia tido antes;
mesmo que ninguém falasse sobre o assunto. Só sentia intimamente! Percebendo isso, minha mãe fez inúmeras tentativas para me dar um pai. Lembro-me de todos os pretendentes. Alguns até que se esforçaram outros nem fizeram questão, só estavam a fim de se lambuzarem. Devido a minha infantilidade e medo a maioria eu dava um jeito de rejeitar. Por isso, hoje posso dizer que foi muito confuso para mim. Sentia falta de um pai e quando havia a possibilidade, eu os afugentava! Em meio a tudo isso, a figura do meu tio Beto se destacava. Sempre auxiliando, brincando, ajudando e dando exemplo. Ele casou e continuou o mesmo, eu diria melhor, foi tendo seus filhos e não se esqueceu de nós; porque ele não foi só o meu exemplo de pai; ele foi pra mim e para meus primos também! Meu tio Beto sempre foi diferenciado em tudo! Enquanto os outros eram mais individuais, ele olhava por todos nós! Anos depois seguiu seu caminho e foi criar sua família lá na Bahia. Senti muito a falta que ele fazia.
Quando fiquei independente, saí pelo mundo. Na medida em que fazia amigos, me aproximava dos pais deles na tentativa de entender como eram os relacionamentos deles. Aprendi muito com isso. Descobri que independente da cultura, da classe social, de qualquer coisa e da relação que havia entre eles, cada pai tinha seu valor e seu demérito. Não havia pai perfeito ou modelo para nenhum deles e a grande maioria lidava com o pai que tinha. Pelo menos tinham a presença, mesmo que indiretamente! Conheci muitos pais de meus amigos que eram do “tipo paizão”, daqueles que dá vontade da gente ficar abraçado e não largar mais. Um em especial tenho muito carinho: vamos chamá-lo de “Seu Julio”. Pai de meu amigo “Lino” e de outros três belos rapazes, todos bem criados e alimentados, cursavam faculdade, moravam na vila mariana, bairro classe média de São Paulo. “Seu Julio” era descendente de espanhol, tipo mediano, troncudo, cabelos pretos lisos, um olhar penetrante e um sorriso largo de gente boa. Os filhos saíram verdadeiras obras de arte. Todos moldados, um mais lindo que o outro. Fruto da mistura de espanhóis com portugueses, por parte de mãe. Muitas vezes ia almoçar com eles aos domingos e me sentia especial por participar daquele banquete em família. Dava pra notar a coesão que havia! Por exemplo; dormiam todos no mesmo quarto em dois beliches, compartilhavam o mesmo guarda-roupa e alguns até as mesmas roupas. Só não dividiam os perfumes, cada um tinha o seu. Eu achava aquilo tudo o máximo! Vocês devem estar pensando: família perfeita! Nada disso, cada filho tinha seus problemas e muitas vezes me confidenciavam seus medos. E eu cá com meus botões pensava, “como pode né, uma família tão bonita, bem resolvida financeiramente, com um paizão daqueles, ter tantos problemas?”. E foram muitos os exemplos que DEUS me proporcionou, me mostrando que muitas vezes a ausência de um pai, não se faz apenas fisicamente!
E fui crescendo, me tornando adulto e cada vez mais responsável pelos meus erros e acertos.  Com o passar do tempo, a falta de um pai deixou de ser minha busca, já nem importava mais e assim é até hoje! Não conheci e nem vou conhecer meu pai! Ele já não existe dentro de mim!

Falo isso de forma natural e tranqüila. Nunca precisei de ninguém pra chegar até aqui. Nunca passei por cima de ninguém! O que aprendi foi com os exemplos dos outros. E nisso sou grato pelas pessoas que conheci, pelos filhos e por seus pais. Principalmente por meu tio Beto, que continua firme e forte, hoje morando na terra do forró, na cidade de Macaúbas no interior da Bahia. Criou três belos filhos, todos casados, que lhe deram belos netos. Na última vez que nos vimos ele me recebeu em sua bela casa. Eu e meu companheiro Meloso. Fez questão de nos colocar em um quarto exclusivo só pra nós. Tratou-nos com tanta gentileza e carinho, que nos proporcionou um dos melhores momentos de nossas vidas! Tio Beto é desses homens que toda mulher gostaria de ter, pai carinhoso, homem responsável, gosta de cozinhar, sabe cuidar de uma casa, melhor que muitas mulheres, bonachão sempre de bom humor, por isso que minha tia Cida, esperta que é, está com ele até hoje, pertinho das “bodas de ouro”! Vida longa ao meu tio Beto!
Claro que sou grato a minha mãe, por ter me ensinado a ser a pessoa que sou! Só lamento por ela nunca ter encontrado o homem que a fizesse feliz, mas isso é uma outra história!
Sou muito grato a DEUS, que é TUDO pra mim, mesmo sem muitas vezes saber entender “como” ELE é meu PAI! Só sei que “ELE é o meu verdadeiro PAI”!!!

Resumindo: tive e tenho amigos com seus respectivos pais, de todas as formas e gêneros. Continuo me apegando a eles, mas sem mais querer buscar exemplos neles. Vejo muitas vezes a história se repetir e daí me vêm uma certeza: cada relacionamento tem sua base, sua raiz e os fatores que permearão suas vidas, por muitos e muitos anos!!!



32 comentários:

  1. Como tudo na vida, o nome de um pai significa muito, para as convenções sociais, é claro! Porque na prática, conheço muitos casos em que filhos, adorariam retirar de seus documentos o nome de seus pais, já que esses são mera figuração. Postura de pai nenhuma! Mas acho que entendo a falta que isso faz, na nossa época não existiam o termos "mãe solteira" ou "produção independente" como hoje. Naquele tempo era; rapariga! Quenga!!! E outros termos chulos que era um prato cheio para o hoje conhecido bullying!
    Parabéns pelo excelente texto! Orgulho de você! Bjs!!!

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    1. Verdade, antigamente era muito complicado pra mulher "ser mãe solteira"!
      Por isso quando mamãe engravidou, teve que ir pra outra cidade e foi lá...
      onde minha história começou!!!
      Beijão

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    2. lindo texto babe parabéns !!!

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  2. Eu geralmente recuso textos muito longos em blogs por que se não não tenho tempo para ler todos os outros blogs que sigo... mas esse seu post me manteve preso nele até o fim, amei esse texto sobre sua vida e seu relacionamento com a figura do pai muito tocante, sem ser meloso, e inteligente, a partir de agora adiciono vc a minha lista de blogs tbm... A felicidade depende de nós e não de fatores externos!

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    1. Fico sinceramente agradecido e motivado a continuar relatando minhas histórias...

      Fique a vontade para compartilhar e comentar sempre que quiser!

      Grande abraço!!!

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  3. muito bem elaborado vc escreve legal continue teremos belas crônicas parabéns babe

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    1. ô meu amor....é muito bem tê-la por aqui... te curto de verdade!

      beijão

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  4. Disse tudo, caro Gera: cada relação é diferente da outra. Por mais que (alguns) clichês se repitam, a forma como nos relacionamos (com pai, mãe, amor, cunhado ou avalista) é única e só precisa "fazer sentido" para os envolvidos, nzé? Adorei teu relato, menino! Bjão gaudério pra ti!

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    1. O importante é ser sincero quando temos que falar abertamente com nossos familiares..

      Meu gauchão preferido..te adoro!!! Bj

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    2. Valeu, Gera!!! Tamo junto... hehehe! Bom finde, meu caro! Bjão!

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  5. Assim como ser mãe vai além de parir, ser pai vai além contribuir geneticamente para a concepção. Criar e dar todo o amor que uma criança merece é a função de um pai. Com certeza o seu Tio Beto foi e continuará sendo seu pai. Como você descreveu em seu texto ele é totalmente responsável pelo seu desenvolvimento psico e social. Como certeza você deve amar e respeitar esse ser humano maravilhoso.

    Texto lindo!

    Abraços!

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    1. Ahhhh meu tio Beto é um homem sensível.. o que chamamos hoje de: homem com alma feminina, sem deixar de ser hétero. Se bem que ele nunca se preocupou com estereótipos! Eu sou fã dele!!!

      Obrigado Israel pelo comentário...abração

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  6. Tive um pai muito ausente, raramente ficava conosco e quando meu irmão mais velho que sempre foi muito problemático constituiu família, meu pai acolheu aquela família à parte como se fosse a dele; Engraçado, pois estávamos todos em família...rs
    Mas não guardo nenhuma mágoa ou qualquer sentimento de revolta, talvez pela própria "não convivência" com ele!
    Abração :)

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    1. Eu te entendo... sinto isso também devido a "não convivência"...

      Agradeço sua participação Bruno, "minerin da gema"...rsrsrsrs

      Abração

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  7. Pai é quem cria, Gera ! Definitivamente.

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  8. Boa tarde meu amigo Gera. Como vai menino?
    Eu que sou grato em conhecer um jornalista, sim jornalista, porque você escreve muito bem. Digno de aplausos e merecedor de uma coluna em algum jornal. Você e o Rafael (http://realidadeousonhos.blogspot.com.br/), são ótimos!

    Esse texto veio para mim. Na verdade eu sou o "tio pai" da minha linda sobrinha de 3 anos. Minha irmã ficou gravida de um cafajeste com quem ela namorou um ano. O cara sumiu, eu assumi tudo. Todos os 8 meses de gravidez dela (Vittoria nascer prematura), foram como se fosse eu rsrs. Minha filha (ou sobrinha), é meu coração com pernas, que brinca, que se encanta e me faz querer sempre mais na vida.

    Parabéns amigo.
    Abração para você e Dih.
    Do amigo.
    Dan

    http://gagopoetico.blogspot.com.br/

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    1. Vou dizer com meu coração... fico tocado com ações como a sua!

      Que você seja imensamente feliz com sua filhota e tenho certeza que dará todo carinho

      que ela merece!! Além de todo suporte que ela já tem!!!

      Grande exemplo...continuo ainda mais teu fã!!!

      Beijão

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  9. Perdi o meu qdo tinha 24 anos e sei q ele fez falta em minha vida ... Hoje seria um companheirão tenho certeza disto ...

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    1. Nossa Bratz, não sabia disso.... vejo você sempre tão espirituoso... tenho certeza que guarda todas as coisas boas que seu papai lhe ensinou!!

      Já visualizo a imagem de vocês dois juntos dando ótimas gargalhadas!

      Seu fiel escudeiro...

      Beijão

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  10. Caro Gera, muito boa noite, ou melhor, muito bom dia de sexta feira!

    Permita-me, lhe chamar de cara chato!!!

    Pois bem...

    Chato!!!

    Cara, você tocou num dos assuntos que não gosto muito de tratar, pode estar mais ou menos enquadrado nessas suas linhas. No entanto, uma questão ainda mais forte é que nunca conheci meu paí e não fui criado por minha mãe, sendo que até os dias de hoje, não nos damos bem. Fui criado por minha avó materna. E é ela quem chamo de mãe. Já desencarnou, a mais de 13 anos.

    A figura masculina nunca esteve presente, na pessoal de um pai. Nunca o conheci e hoje, com meus 36 anos (mais de 2o e poucos anos, como canta o Fábio Jr) não sinto falta. Minha avò/mãe consegui, com aquele analfabetismo educacional dela ser tudo, mãe, pai, tio, tia, etc...

    No entanto, duas figuras não me deixam à mente, mesmo que distantes nas duas esferas.

    Meu velho avô Pedro (já desencarnado) e meu tio Henrique, que mora em São Paulo à anos.

    Você me fez evocar boas lembranças, agora... portanto, é melhor parar e fechar os olhos, contemplando meu mundo interior.

    Muita paz, sempre!

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  11. Putz Ed... esses assuntos são sempre difíceis da gente lidar abertamente...preferimos muitas vezes, deixar intocado lá no fundo do baú de nossas lembranças!
    Mas que bommmmmmm... se você gostou a esse ponto é sinal que lhe trouxe ótimas lembranças!
    Sendo assim eu vou te perdoar e dizer que continuarei esse "chatão" que vai te incomodar bastante!
    Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!
    Agradeço de coração seu tom carinhoso...
    Grande abraço

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  12. O teu texto,lindamente escrito,tocou meu coração. Admiro quem tem coragem de expor seus sentimentos aqui na blogsville, e mais ainda:quem supera seus problemas e dá a volta por cima na vida,como tu fizeste. Esse texto pode inspirar e ajudar muitas pessoas que passam pelo mesmo...

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    1. Tomara que sim Madi... tudo o que for bom e que edifique vidas!!!

      Muito obrigado pelo comentário que muito me motiva!!!

      Beijão

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  13. Uhuuuuuuuuuuuuuu!!! Vamos ver o Gera na Gincana!!! Boa sorte, caro amigo! Bjão!

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    1. Já vou antecipar e dizer que minha participação será como mero figurante, pois sou o mais novo seguidor do seu blog meu gauchão favorito!! rsrsrsrsrsrsr

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  14. Felizmente, cedo ou tarde a gente se toca que não importa o que a vida faz com a gente, mas o que a gente faz do que a vida fez com a gente!!!
    Parabéns pela trajetória e pelo depoimento!
    Forte abraço

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    1. Brigado pelo carinho Alex,

      Já estava sentindo sua falta aqui...beijão

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  15. Oi Gera, tudo bem?
    Bom, eu meio que compartilho o mesmo que vc. Meu pai foi praticamente minha vida toda ausente, tive pouquíssimos momentos que eu me lembro dos quais posso dizer foram bons. Meu pai que realmente eu considero foi meu avô, ele sim, foi a figura masculina em minha vida, foi quem me ensinou alguns valores e tudo mais. Mas enfim, acho que não vale a pena eu ficar remoendo isso, rs.
    Ah menino, parte eu ambientei na Olívia mesmo rsrsrsrs
    Bjo menino

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    1. Hehehehee.. não vale mesmo, ficar remoendo o que enterrado está!!!

      Beijão

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  16. Bah,Gera,q texto forte..me emocionei com ele, e vc parece ser um homem q supera tudo,com todas as tristezas e dificuldades q já passou na vida...Como vc já leu lá no meu blog,o meu pai já morreu,mas ele foi uma figura muito presente na minha vida e dos meus irmãos,apesar de toda a rigidez dele conosco(só quem tem pai germânico sabe)-o q me faz pensar que todos,de alguma forma,que não tiveram um pai,q perderam um pai,precisam olhar pra frente,e foi o q vc fez,.Vc enfrentou muitas coisas,eu te admiro muito por isso!

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  17. Também te admiro pela pessoa que você é! Retribuo o carinho e afeição...

    Beijão

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Muito do que aprendi na vida, foi convivendo e trocando experiências com outras pessoas. Agradeço sua visita e seu comentário. Seja bem vindo !!