quinta-feira, 9 de abril de 2015

O FIO DA MEADA !! - Parte 2


Minha primeira grande paixão por outro homem aconteceu quando eu tinha 15 anos. Eu morava em Santos e trabalhava em uma Administradora de Imóveis. Lembro-me de todos que trabalhavam lá: o gerente era o Luiz, sempre alegre, brincalhão e daqueles que abraçava os funcionários. Ele sempre me lançava olhares maliciosos, soltava elogios sobre minhas pernas, coxas e como eu me vestia. Eu ficava desconcertado mas no fundo envaidecido! Eu adorava usar calças bem apertadas que delineavam minha formas esculturais, afinal tinha um corpo atlético, jogava bola, nadava! Gostava de chamar atenção e de receber olhares por onde passava! Naquela época eu não retribuía e hoje eu entendo que ele nutria uma atração sexual por mim. Tinha também o Arnaldo, do mesmo jeito sempre de bom humor, magrinho tinha uma paralisia em uma das pernas e andava mancando. E havia também o Zé Luís, mais calado e não menos engraçado e brincalhão. Por este eu sentia o corpo todo arrepiar só em olhar! Era um belo exemplar masculino com um corpo escultural; fazia judô e natação. Gostava de se mostrar, sempre com calças apertadas denotando o volume avantajado do seu membro! Era meio loiro, meio ruivo, cabelos fartos quase nos ombros! Me olhava de um jeito que me deixava encabulado. Ele sabia que eu era virgem e me assediava o tempo todo de forma velada. Arrumava um jeito de ficarmos sempre sozinhos na sala de arquivos, onde tentava me agarrar exibindo seu grosso membro envergado como o de um “sátiro”! Nunca cedi às suas tentativas e me arrependo amargamente por isso! Rsrsrsrsrsrsrs...
Aos 16 anos, mudamos para São Paulo, trabalhava na Mendes Junior próximo a esquinas da av. São Luis com R. Xavier de Toledo. No horário do almoço, observava um homem branco, alto, corpo esbelto, bem vestido; que almoçava no restaurante em frente, ele atravessava a rua e entrava no prédio ao lado do meu. Sempre com um sorriso aberto me lançava um olhar instigante. De propósito todos os dias, lá estava eu na espera daquele sorriso lindo. Até que um dia eu retribuí e ele veio em minha direção. Tremi dos pés à cabeça. Não sabia o que dizer, quando ele perguntou se eu trabalhava ali. Ruborizado eu disse que sim e saí em disparada subindo ofegante os lances das escadas até o meu andar. Meu coração parecia que ia pular! No dia seguinte criei coragem e fiquei estrategicamente no meio do caminho possibilitando um bate papo mais discreto. Conversamos e foi logo perguntando se eu queria me encontrar com ele após o expediente, respondi que sim! Então naquele dia fui parar em seu belo apartamento na R. Frei Caneca perto da av. Paulista. Não houve preâmbulos, nem beijos calorosos, nem carícias, a coisa foi nua e crua. Sem meandros foi direto ao ponto de maneira rude e viril. Foi minha primeira decepção sexual, decepcionante e marcante pelo fato de ser passivo na primeira experiência. Definitivamente não foi legal e isso deixou cicatrizes por alguns anos; fiquei com medo de me envolver.
Comecei a frequentar boates e bares gays na região central de São Paulo.
Os famosos “guetos” daquela época tinham um clima intimista, com meia-luz nas mesinhas e músicas românticas nas “vitrolas juke box”.  Era o auge dos anos 80, gostava das grandes boates como a Medieval, o Nostro Mondo, a Homo Sapiens (ou HS), e também dos bares “266 West”, “Val Improviso”, “Caneca de Prata”, além do famoso “Ferro’s Bar” frequentado exclusivamente por lésbicas!
Vivíamos um clima de apreensão devido a ditadura militar, a perseguição do delegado Wilson Richetti aos gays e travestis e depois com a explosão da Aids.
As oportunidades e aventuras sexuais aconteceram espontaneamente, com o vigor e a força de uma juventude, que ansiava por novas descobertas e queria ser aprovado na faculdade da vida.

Lembro em especial de um cara que encontrei em um barzinho, paqueramos e começamos a namorar. Ele se apaixonou de imediato e me presenteava com passeios à lugares românticos pelo interior de São Paulo. Mas como eu amava minha liberdade mais do que a mim mesmo, terminei o namoro de forma melancólica! Eu era um jovem sonhador e só tinha compromisso com minha vida! Não queria me prender à ninguém! Eu era jovem, sabia dançar, me vestia bem e achava que não ia morrer nunca!!
Uma única constatação nesse flashback é que eu jamais amei alguém. Tive alguns momentos de raras paixões, movido pelo clima de alguma música mais envolvente ou por uma carência momentânea. Por exemplo, mais tarde em meio a minha vida monástica, andando pelas ruas, me esbarrei em um anjo dos cabelos loiros e olhos verdes, sorrindo pra mim, me convidando a sair voando com ele pelas estrelas. Instante de total perda de razão, cegueira emocional. Fiz malabarismos para estar entre quatro paredes com aquele ser angelical e doce, em momentos de pura magia! O namoro não durou muito. Fiquei sabendo tempos depois que ele se envolveu com outro cara, contraiu aids e veio a óbito!
Naquela época de pouca informação foi um choque muito grande. Mas eu segui em frente como um descobridor dos setes mares.
Vivi um período no interior da Bahia e lá pela proximidade de parentescos, tive meu primeiro amor platônico por um amigo do meu primo. Ele era atencioso, me ajudava em tudo, na adaptação, nas caminhadas pra roça, pro açude; fazia questão de me inserir na cultura local. Um dia me levou para conhecer Salvador, fomos num restaurante na beira da praia e ao lado dele me sentia especial. Naquele momento tive que me segurar para não me jogar nos braços dele e me entregar de corpo e alma. Ele nunca percebeu nem insinuou nada. Anos depois se casou e teve vários filhos. Nunca mais o ví!
Também tive uma experiência digamos diferente com um amigo mais próximo.
Ele estava passando por uma situação emocional complicada com a namorada e se aconselhava sempre comigo. Eu dava forças pra ele conquistar a moça, uma conhecida minha. Ele vinha todos os dias em casa, passava horas e vez ou outra até dormia em casa. Detalhe, algumas vezes tomamos banho juntos e dormíamos na mesma cama, entre aconselhamentos, eu me abri e falei da minha atração por ele; que simplesmente abriu um grande sorriso e disse: mas nós somos como irmãos! Disse que tinha enorme carinho por mim e que me entedia. Dormimos abraçados muitas vezes e ele nunca sequer demonstrou nenhum interesse sexual. Havia um respeito tão grande e por isso ficou marcado em minha vida. Hoje somos grandes amigos, ele casou com uma mulher inteligente que combina com ele e tem uma filha linda!
Como falei anteriormente, vivi todas as experiências sem nenhuma expectativa do que viria a seguir. Entre sonhos e dramas pessoais fui amadurecendo. Não me esqueço de nenhum daqueles que ilustraram as páginas da minha vida. A grande maioria nem sei por onde anda. Só sei que guardo cada lembrança como um souvenir raro que afaga minha alma e me enche de gratidão!

E vocês, que lembranças guardam dos tempos de iniciação?
*PS: Deixo abaixo alguns videos que encontrei no youtube, de um documentário "SÃO PAULO EM HI FI" do diretor Lufe Steffen de 2013; que retrata a vida gay nos anos 70 e 80.




23 comentários:

  1. Como é bom conhecer um pouco mais a história de vida dos amigos, ainda mais qdo eles compartilham de nossa geração ... coisa mais linda e mais nostálgica ... amei os vídeos ... bem a minha cara e a cara de minha vida ...

    Beijão

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    1. Maravilha que você tenha gostado do flashback!! rsrsrsrsrsrs

      Beijos

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    2. Excelente texto! Mais uma vez você
      mandou muito bem, narrando fatos reais
      de sua vida!
      Cada vez escrevendo melhor. Parabéns!

      Bjus!!

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    3. Pois é meu amigo, o que eu posso dizer é que voce realmente escreve muito bem, e se sente bem em expor os fatos importantes de sua vida desde a adolescência, Apesar de não entender esse sentimento por pessoa do mesmo sexo e inclusive atração sexual, vivi muitos momentos parecidos só que com garotas, maravilhosas, que me enchem de saudades até hoje, umas continuam amigas,outras porém perdi de vista e lamento pelos caminhos que nos afastaram, parabéns pelo texto, acho que deve continuar, tambem gosto de escrever mas minha condição não permite que revele todos os pormenores, abração!

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    4. Agradeço de coração pelo comentário e incentivo... é muito importante saber que existem pessoas como você que mesmo sem entender o comportamento do outro, respeita e se sente à vontade para até comentar. Parabéns pela postura!! Pra mim você é um exemplo de respeito e consideração. Grande abraço

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  2. Ah, que história mais linda a sua.... o tempo passa, as memórias ficam.
    ...rua Frei Caneca (Gay Caneca, como dizem os paulistanos, rs...), desde sempre a preferida pelo público gay. Que saudade de São Paulo...
    Felicidades pra voce!! Bjs

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    1. Me sinto lisonjeado por sua visita e comentário...volte sempre!
      Abração!!!

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  3. Excelente post! obrigado por compartilhar! Lendo sua estoria, e seus sentimentos, percebo que desde cedo eu nunca fui um cara ligado "na minha liberdade", sempre quis estar com alguem , namorar... e acho que tive sorte, encontrei pessoas muito legais e com as quais cresci muito, mesmo com algum sofrimento! viajei na maionese lendo seu texto!

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    1. É o preço que tive que pagar por escolher viver em busca da "tal liberdade" amigo HP...
      As vezes penso que a vida me selecionou desta forma..foi assim que eu cresci!
      Por isso agradeço por hoje ter essa mentalidade em compartilhar e aceitar opiniões diferentes!
      Grato pelo comentário!!

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  4. Uma porção de aventuras nessa cidade maravilhosa e que eu tanto amo, muitas histórias que eu compartilho ... muita música, muito estilo, gostei da forma como você partilhou sua história.

    Gossip of Boy.
    gossipofmen.blogspot.com.br

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    1. É um prazer receber sua visita aqui Chris...seja bem vindo! abração

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  5. Q post maravilhoso, como é bom saber mais da vida e das lembranças dos nossos blogueiros amigos...amei Gera, escreves lindamente!

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    1. Seu comentário é um enorme incentivo pra mim... eu que ando displicente em minhas postagens.. já sinto até boicote de alguns blogueiros!!

      Agradeço mais uma vez sua ilustre visita Madi!!

      Beijocas...

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  6. Vou dizer uma coisa aqui que talvez deixe algumas pessoas espantadas: vou fazer 40 anos esse ano e nunca namorei.
    Já tive vários parceiros sexuais até hoje, é claro (se os meus cálculos não falham, já peguei cerca de mais de 20 e menos de 30 homens até agora - e o número tá aumentando, é claro! rs). Alguns, foram caras que eu encontrei ali na hora, rolou tudo o que rolou só na hora e eu nunca mais vi nem ouvi falar no cara; outros, foram amigos, com quem eu mantenho contato até hoje. Aliás, o cara com quem eu já transei mais vezes na minha vida até hoje foi exatamente o meu melhor amigo.
    Namorados, entretanto, são algo que não me interessa.
    Tô sempre aberto a novas amizades (com sexo ou sem sexo envolvido). Mas namoro é uma coisa que tá fora dos meus planos. Se acontecer um dia, vai acontecer por puro acaso,porque eu não tô procurando.
    Claro que eu vejo as coisas assim HOJE. Quando eu era adolescente e pós-adolescente, claro que eu pensava muito no assunto. Aliás, me apaixonei pela 1ª vez (e única) quando eu tinha 14 anos, também de forma platônica e por um homem com quem eu nunca nem sequer troquei uma palavra!
    Mas isso foi em outros tempos. Hoje já sei que o meu negócio é ser um bom amigo dos meus amigos e não ser namorado de ninguém.

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    1. Querido Leo, what surprise!
      Me sinto tão feliz quando surgem comentários que só acrescentam ao texto. Ainda mais quando vem recheado de revelações "bombásticas" como as suas..(rsrsrsrsrsrs)
      Gostei da coincidência entre nós...pois eu fiquei dos 30 aos 40 totalmente sozinho e sem nenhuma vontade de ter uma namorado. Daí, do além me surge o Meloso! Bom, nossa história vc já sabe um pouco dela. Acredito que isso irá acontecer contigo quando vc menos esperar...
      Adorei tudo o que vc escreveu!
      Beijo carinhoso!!

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  7. Ei Gera!
    Adorei sua postagem.
    Hoje (sabado) almoçando a pouco com o par
    e com meu filho caçula, artista como nós eque vive na grande SP
    e que nos visita hoje e amanhã trabalha em um show com o pai,
    li você aqui antes do almoço,
    e durante nossos almoços e refeições temos o costume
    de conversar sobre tudo
    e eu falei dessa sua postagem
    e da forma tranquila como sem
    levantar bandeiras você vive a sua vida.
    Ainda que dentro da gente haja um turbilhão diante
    das decisões e da carência que é o viver
    enfrentar e não fazer drama é
    o diferencial entre gente e "gente".
    Minha história de vida não se encaixa
    no contexto pra eu contar alguma experiencia.
    Sempre conheci meu corpo e minhas vontades.
    Todos devem partir desse princípio como
    eu e vc: conhecer-se
    Mas posso dizer com todas as letras
    que quem não se faz de vítima da vida
    pode sim ser feliz por esse mundo.
    Adorei ler você especialmente hoje.

    Alias te aguardo nesse meu canto novo.
    Bjins queridissimo!

    CatiahoAlc.

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  8. Queridissima Catia!!! Que responsa gostosa é poder fazer parte do rol de debates de sua familia...fiquei imaginando euzinho sentado na mesa junto com vcs e trocando muitas figurinhas sobre nossas vivências!!
    Sua presença aqui só fez enriquecer ainda mais meu singelo bloguinho!
    Beijo carinhoso a todos de casa!!!

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  9. O que dizer sobre tudo isto? A Madi disse tudo ... faço minhas as palavras dela ...

    Beijão

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  10. Quanta intensidade... rs... tive vários amores platônicos... quem não teve, né!?

    Abraços

    Alê
    http://nossoconfessionariopublico.blogspot.com.br/

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    1. Verdade Alê...o que seria de nós sem nossos amores platônicos! rsrsrsrsrsr

      Super abraço

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  11. Nossa, que legal! Vc relata com tantos detalhes que dá pra gente reviver junto com vc essa época que eu não conheci... rsrsrs

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    1. Fico muito feliz que consigo transmitir emoção através da escrita! Que bom que você gostou...obrigado pela visita!

      Beijão

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Muito do que aprendi na vida, foi convivendo e trocando experiências com outras pessoas. Agradeço sua visita e seu comentário. Seja bem vindo !!