sábado, 31 de agosto de 2013

Profeta de Ilusões

Em se tratando de religião, as primeiras lembranças não são claras. Tenho recordações de minha vó Chica, que era chegada num candomblé ou umbanda, nunca soube diferenciar. Fazia questão de levar toda família no “terreiro”. Só sei que não era uma sensação boa. Sempre era à noite e era uma gente estranha fazendo coisas esquisitas. Me incomodava o barulho e os gritos, nem sei explicar o motivo desse incomodo; não entendia nada, simplesmente não gostava! Isso durou pouco e depois não houve mais “tentativa religiosa” naquela época. Por outro lado, minha mãe não seguia nenhuma religião. Falava sempre em Deus, mas nunca me apresentou a Ele, até então!

Sabia que eu não era pagão, pois tinha uma madrinha, conheci ainda criança, chamava-se Terezinha e morava em Cubatão/SP. Toda vez que íamos visitá-la, fazia doces e bolos gostosos só para me agradar, o que me deixava mais mimado ainda! As viagens de trem descendo a serra do mar eram inesquecíveis. A paisagem, o barulho na estação, os sons da “Maria fumaça”, das pessoas, era uma aventura deliciosa! Talvez venha daí meu desejo de viajar. Aquela sensação de liberdade! E foi ela que sempre permeou minha vida. Eu não sabia o quê ou quem era Deus, sabia que existia uma sensação de liberdade! 

Recordo-me, ainda jovem, passava horas diante do mar, tentando entender os por quês da vida. Olhando aquela imensidão nunca tive resposta; mas só pelo fato de estar ali, refletindo e pensando; já me dava grande alívio!
Então sempre me acompanhava o sentimento de querer “buscar respostas”, saber a razão das coisas, descobrir qual a chave “pra entrar em sintonia com o universo”. Eu queria entender porque era diferente dos outros meninos, porque tinha um gosto diferente e porque me sentia assim... Inúmeras vezes durante minha vida, nos momentos de crise, eu me refugiava diante do mar.
A primeira vez que eu fui apresentado a Deus, foi em Macaúbas/Ba, ao fazer parte do grupo de jovens da Igreja Católica. Explico que “fazer parte” era algo prático, estava no dia a dia das pessoas com as quais eu convivia. Pela primeira vez eu estava inserido em um grupo e era bastante enriquecedor. Significa pertencer, participar, estar junto. Foi assim que eu comecei a “entender as coisas” sobre DEUS! Com aquela gente humilde dos lugares longínquos, que demonstravam sua alegria pela nossa presença e nos retribuíam com o que tinham de melhor; no compromisso daqueles jovens em levar palavras de carinho e alimentos para aquelas pessoas que nem conheciam! Foi assim que o Amor de DEUS entrou na minha vida!
Só que ainda faltava muito para entender o que isso significava para mim. Esse “Amor” criou uma raiz em mim que precisava ser regada e alimentada. Busquei-o em diversos momentos e circunstancias. Freqüentei Hare Krishna, Seicho No Ie, Grupos Espíritas Kardecistas, enfim... Uma infinidade de crenças!
Anos mais tarde, morando em Salvador, visitando uma cliente do banco em que eu trabalhava, apresentou-me de forma ilustrativa a um cara chamado “Jesus”, eu já tinha ouvido falar nele, mas não com tanta propriedade! Aquela garota tinha luz até no nome e falava com tanta empolgação que me chamou a atenção. Dias depois em seu escritório, insistiu que eu fizesse uma oração e entregasse minha vida pra Jesus! Ajoelhamos-nos e eu repetia as frases que ela dizia. Não me lembro exatamente o que significava, mas lembro de ter impactado minha cabeça. Bom, minha vida não mudou nada! Eu continuei sentindo o mesmo vazio e experimentando muitas situações negativas chegando a presenciar “o cheiro da morte”!
Em meio a tudo isso, retornei para São Paulo e lá fui convidado
por minha tia Madá, a conhecer um grupo de esportistas. Ela sabia que eu gostava de jogar bola e então me levou para conhecer os “Atletas de Cristo”, na época fazia muito sucesso. Havia o Silas e o Miller (jogadores de futebol), dentre outros. Também conheci o Alex Dias Ribeiro (corredor de Formula 1) que me contou a história da bíblia sobre a “salvação” para todas as pessoas! Na segunda reunião, tive a convicção de que queria receber aquele “JESUS” tão real, vivo e amigo! 
Como se uma luz invadisse todo o meu ser, uma sensação de alívio, de paz e tranqüilidade. Todas as minhas dúvidas se dissiparam naquele momento e nos outros subseqüentes. Freqüentei a Igreja Batista do Morumbi, uma igreja muito “chique”, freqüentada por famosos e gente rica. Era bonito ver aquela mistura de classes sociais, pois tinha gente pobre também! Aprendi muito com todos! Me batizei e comecei a fazer Faculdade de Teologia. Foram os melhores anos de minha vida, sem dúvida alguma! Foram 02 anos em total harmonia com tudo e com todos. Não sentia necessidade de sexo, nem me masturbava, duas coisas em que era viciado! Meu alimento era espiritual, me fortalecia dia a dia. Participava de grandes eventos, conhecia outras denominações, acompanhava grupos musicais, freqüentava círculos de amizades onde experimentava amor fraterno genuíno.
Até que as tentações vieram e em dobro! Dúvidas e incertezas povoaram minha mente. Nessa época eu fazia curso preparatório para me tornar missionário, namorava uma "varoa" e até pretendia me casar. Só que num momento de luz desisti da igreja. Mas nunca de DEUS. Que eu já conhecia muito bem! ELE se manteve sempre do meu lado, apoiando, dando forças pra continuar a difícil caminhada da vida. Até hoje se mantém fiel com seu AMOR INCONDICIONAL! Posso dizer que não faço apologia a nenhuma religião, conheço e tenho grandes amigos que freqüentam, participam e se envolvem com diferentes igrejas e religiões. Não defendo nenhuma! Cada um sabe de si e de sua crença. Eu prefiro ficar com DEUS somente, digo e sinto que estou em paz com o Universo! Não pratico nenhuma religião, não me identifico com cerimoniais, rituais, dogmas e homilias, nunca me identifiquei.
Somos seres espirituais e cada um tem sua identificação com DEUS do jeito e da maneira que ELE entende o que você quer dizer ou fazer. DEUS me conhece intimamente melhor do que eu mesmo. Não há uma regra que molde nosso relacionamento! Respeito, admiro e converso com ELE em todos os momentos possíveis. Tem dias que não quero papo e tem dias que não saio do pé DELE! Hoje me vejo como espiritualista e ultimamente me sinto atraído por experiências espíritas mas isso é uma outra história...

16 comentários:

  1. Quem não se enveredou por denominações e religiões, em busca de resposta para suas questões, não é? Até um belo dia descobre-se que essas respostas estão dentro de nós, em nenhuma religião. Porque a verdadeira religião é Deus, e só ele sabe o que é melhor pra cada um. Acredito que o diferencial é a forma como essas histórias são contadas!
    E você faz isso muito bem. Parabéns! Continue assim criativo!

    Beijos!

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    1. Acredito fielmente de que a grande força que emana de DEUS está dentro de cada um!!! Te adorooooooooooooo...

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  2. Awnn .... <3 Quanto amorr. Thomas. Deus é bom...

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    1. Tem uma canção gospel com esse título: GOD IS GOOD!!! Beijo

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  3. Querido amigo, também já frequentei várias religiões! Fui "apresentado" a Deus desde minha infância pela minha avó materna, super católica e protetora, ministrava para mim o que minha mãe não dava tanta importância - Princípios religiosos! E o fato é que o efeito surtiu estrondoso...entrando na adolescência já queria ser padre....ah, o orgulho da avó! Depois resolvi tentar ser monge e me correspondi com todas as ordens religiosas masculinas: Beneditinos, Camaldolenses, Franciscanos, Carmelitas, Cistercienses, Cartuxos (a mais rigorosa pois vivem em clausura estrita longe de todos)! Estava cursando o ensino médio (segundo grau na época) e precisava terminar para ingressar! Aí o tempo foi passando e do nada desisti...pra desgosto de minha avó tadinha...rs
    Pra quem foi criado sobre a rígida doutrina católica, foi um susto quando ficaram sabendo que estava frequentando um terreiro de candomblé, sem jamais alguém da minha família pertencer ou frequentar tal!
    Fui pelos meus próprios passos, curiosidade...confesso que gostei...mas como você disse, o "barulho" ensurdecedor dos atabaques, matança de animais (para oferecer a um Orixá), me desgostou e me afastei novamente! Daí conheci a Umbanda, um pouco mais branda, sem tantos artefatos quanto no candomblé; Frequentei um terreiro por 03 anos, mas não acrescentou em nada o que eu já sabia e o que eu buscava! Passei para o Kardecismo que gostei também, mas não me arrebatou! Sabe quando você tenta mas não encontra o caminho? Não acha? Bom isto tudo foi acontecendo e os anos correndo....até que minha mãe que sempre se mostrou "indiferente" as coisas espirituais, começou a me mostrar uma face que até então não tinha percebido detidamente: Ajudar os outros, sem nada pedir em troca! Os anos de juventude dela já tinha substituídos pela experiência mais profunda da vida e de uma forma ou de outra ela se encontrou...não digo tarde porque não existe tempo para encontrar este sopro de vida divino! Ele chega a qualquer momento, mormente quando mais precisamos e não damos por ele nos pequenos milagres que a vida nos proporciona todos os dias em sua simplicidade! E aquele jeito desprendido, sempre pronta para atender a quem precisava me fez ver que a religião é isso: Ser positivo com a vida (claro que nem sempre é possível pois enfrentamos dificuldades) mas saber aceitar os desígnios de uma força superior a nossa e com isto alimentar outras vidas, transmitir forças, energias positivas! Hoje vejo Deus dentro de mim em todos os momentos: tristes, alegres, até mesmo quando estou com raiva de alguma coisa! Deus nos ama tão profundamente que mesmo neste mundo onde as guerras, os maiores absurdos são cometidos, ele nos propicia o ponto de partida novamente, o reencontro conosco mesmo e com o próximo...este recomeço é eterno, enquanto tentarmos ele estará ali, pronto para seguirmos uma nova trilha!Ele está dentro de mim, não preciso ir a uma instituição para encontrá-lo se sou parte dele e de sua essência majestosa! Nossa como escrevi, desculpe...rs...não sei se fugi do contexto de sua postagem...se sim peço que me perdoe! E não sei rezar com palavras....minha oração se faz em fração de segundos...reconhecendo os benefícios que recebo e como um filme passado em imagens rápidas eu agradeço com todo meu coração!
    Um grande abraço!

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    1. Você foi BRILHANTE e até DIVINAMENTE inspirado...perfeito!!! Cheguei a sentir o amor de DEUS me envolvendo através do seu relato...SHOW!!!! Que nossos ouvidos e olhos espirituais estejam sempre abertos. Beijão

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  4. Nada a acrescentar depois dos coments do Dih e do Bruno ... foram brilhantes ... Bratz segue e seguiu a mesma trilha ...

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    1. Valeu querido Bratz... sua presença aqui me deixa "mega feliz"...beijooooo

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  5. "Cada um de nós compõe a sua história e cada ser em sí carrega o dom de ser capaz, e ser feliz..."

    Parte da música TOCANDO EM FRENTE muito bem interpretada por Almir Sater.

    Essa é a primeira vez que entro em teu blog. Não o conhecia e vim à vê à pouco pelo blog da Dama de Cinzas (Confissões Femininas). Ao chegar aqui encontro um assunto, muito bem colocado então, em se falando de religião.

    Assim como você tive meus caminhos e descaminhos em se falando de religião. Passei por candomblé, Umbanda, Catolicismo, Protestantismo (Evangélicos) e hoje, finalmente me encontro inserido no espiritismo.

    Não sou frequentador de centro algum, por motivos locais e pessoais. Mas, em 17 anos de estudos, ainda não aprendi anda, me sinto muito mais integrado ao espiritismo, como fator racional, do que qualquer outra escola religiosa.

    Não importa se alguém está nessa ou naquela religião, ou mesmo em nenhuma. O que importa mesmo é o que nos vai no íntimo. E como cada experiência é unica e totalmente pessoal...

    Campeão, gostei de sua história. Voltarei aqui mais vezes para ver e ler outras matérias tuas...

    Um forte abraço com o desejo de muita paz, sempre!

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    1. Que bom que gostou Ed... Seja bem vindo!!! Pelo visto temos "afinidades religiosas"... aliás o que é muito comum quando não temos nenhuma base, vamos em busca de respostas. Hoje em dia, estou me identificando mais com o Kardecismo, mas ainda a passos lentos, pois não pretendo me jogar de cabeça! Tenho alguns amigos que estão me motivando bastante e me dando ótimas referências. Vamos ver onde isso tudo vai dar...Aguarde os próximos capítulos! Grande abraço e shalom!!

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  6. Minha família me podou de muitas maneiras, menos no quesito religião. Acho que porque religião não era algo forte para nenhum deles, então me senti livre para sair nessa mesma busca sua, de entender o universo e as questões sociais e até emocionais. Passei por diversas religiões, mas a que mais me identifiquei foi com o espiritismo Kardecista. Hoje em dia não sigo nenhuma religião, mas a filosofia espírita está presente no modo como enxergo o mundo hoje em dia.

    Beijocas

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    1. É tão bom quando a gente atinge essa visão sobre a religião! Tenho alguns amigos que eu admiro muito, que são kardecistas. Talvez por isso eu esteja me descobrindo vínculos e afinidades com o kardecismo... bom.. vamos em frente né mesmo. Grande beijo e obrigado pela visita!!

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  7. Sem brincadeira... eu acredito que todos nós somos deuses... capazes de tocar (ou não) a vida do próximo. E nem precisa multiplicar peixe ou curar leprosos, não! Basta oferecer o que temos de bom, nzé? Bjs!

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    1. É isso ai meu camarada... a felicidade está disponível a TODOS!! Grato pela visita...abraçãoooooooo!!!

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  8. Grande Geraaaaaa!!! Não precisa mais ter saudades... já tô aqui do novo! Hehehe! Hugzão, meu caro!

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Muito do que aprendi na vida, foi convivendo e trocando experiências com outras pessoas. Agradeço sua visita e seu comentário. Seja bem vindo !!